Dia do Enfermeiro: profissionais do PASAI relatam histórias de quem vive para aliviar o sofrimento de outros

Por: Giovanna Reyner
Quarta, 12 de Maio de 2021 às 18:06

Dia do Enfermeiro: profissionais do PASAI relatam histórias de quem vive para aliviar o sofrimento de outros

Foto: Lucas Lins


Pelos corredores e quartos do Pronto Atendimento Santo Amaro de Ipitanga (PASAI) em Lauro de Freitas, a coordenadora da enfermagem Luana Nascimento cumpre seu ritual diário. No Dia Internacional do Enfermeiro e Enfermeira comemorado nesta quarta-feira (12), ela se paramenta como habitualmente com os equipamentos de segurança individual e parte para o enfrentamento a Covid-19, sua função há pelo menos um ano. 

Lua, como é conhecida pelos pacientes e colegas, é um dos quase 200 colaboradores da unidade que se dedicam diariamente não somente a salvar vidas, mas também a trazer esperança e conforto para familiares que esperam ansiosos o retorno dos seus entes queridos o quanto antes para seus lares.

A luta árdua dentro da unidade é refletida na vida pessoal. Ela que sempre morou com a mãe idosa, teve que fazer duras escolhas para poder continuar lidando diretamente com a patologia extremamente contagiosa.

“Assim que decidi aceitar a missão de trabalhar na linha de frente de combate a pandemia do coronavírus, saí de casa e me afastei do convívio de minha mãe e minha irmã, que apesar de mais nova possui comorbidades. Desde então meu contato com elas é apenas virtual”, contou ela que ficou sabendo da gravidez da irmã por vídeo-chamada.



Medo e coragem

As histórias se cruzam e sem esperar, em um dia de atendimento comum, a enfermeira prestou os primeiros socorros ao seu vizinho diagnosticado com a covid-19. “Ele não me reconheceu por que quando estamos com os equipamentos de proteção somente nossos olhos ficam visíveis, então me identifiquei e senti que no mesmo instante ele estava mais confortável por ter a presença de alguém conhecido com ele”, lembrou a enfermeira se referindo a um dos momentos mais marcantes que viveu dentro da unidade.

Minutos antes de ser intubado, seu vizinho pediu para fazer uma vídeo-chamada e se despediu da esposa. “Ele disse que estava indo para um lugar melhor que não era para ela sofrer. De algum jeito ele sabia que não iria sobreviver e infelizmente veio a óbito”, contou.

São muitos momentos gravados na memória de quem trabalha no PASAI. Para o coordenador da equipe de fisioterapia Whashiton Franklin, o sentimento é semelhante. “Não tem como não viver intensamente tudo que presenciamos todos os dias dentro da unidade. É muito forte quando alguém segura no seu braço e pede para que você não o deixe morrer. Algo que nós lutamos, mas não temos o poder para assegurar que não vai acontecer e quando acontece toda a equipe desaba e isso é um somatório de emoções que acumulamos, sempre tentando ser forte por nós e por todos que nos cercam”, relatou.

Numa dessas tentativas incansáveis para salvar um paciente, Whashiton colocou sua vida em risco ao realizar a técnica de ambuzar (ventilar manualmente pacientes por meio de uma bomba). “Percebi que ele estava tendo uma parada cardiorrespiratória então tive que agir rápido. Mesmo paramentado, o risco em ser contaminado com o vírus é altíssimo com essa manobra porque ficamos muito próximos ao paciente e ventilando o que gera muitos aerossóis - partículas microscópicas que ficam suspensas no ar e são liberadas na respiração e na fala – e dessa forma me contaminei com a doença naquele dia”, lembrou.

Dias depois, o fisioterapeuta começou a manifestar os primeiros sintomas da covid-19 e após a confirmação do diagnóstico passou a ser paciente da doença que deixou seu pulmão comprometido em mais de 25%. “Eu tive muito medo, porque na época minha esposa estava grávida. Então a preocupação com o bem-estar dela e do bebê era muito grande. Graças a Deus me recuperei e eles não foram contaminados”, revelou. Assim como Luana, ele reduziu a visita presencial a seus pais idosos.

“O que era rotina diária agora é uma visita a cada mês e quando vou lá tenho muito cuidados. O principal é ficar longe deles. Sinto falta do abraço, do contato físico deles... Principalmente em épocas dos jogos de futebol quando comemorávamos as vitórias de forma calorosa e agora isso não existe mais”, falou.

Momentos bons, esperança no futuro

Cada alta é comemorada não só pelos familiares, mas também pela equipe. “Nós nos alegramos com cada paciente que volta para casa bem”, disse Luana. Ela conta que um momento de alegria lembrado por todos é quando um paciente soube dentro do PASAI que seria pai pela primeira vez. “A esposa dele entregou uma caixa na recepção e pediu para entregarmos. Dentro tinha um sapatinho e o teste positivo para gravidez. Toda a equipe não se conteve em lágrimas, foi um alento para o coração de todos em dias tão difíceis”, lembrou.

Em 390 dias de funcionamento, o PASAI já atendeu 35.678 pacientes. O equipamento funciona todos os dias em plantões de 24h, oferecendo atendimento médico clínico e exames para diagnóstico da covid-19, raio X, eletrocardiograma e exames de laboratório. “Cada paciente carrega com ele sua família, sua história, suas contribuições para a sociedade e nós procuramos oferecer o melhor atendimento possível prezando sempre pelo lado humanitário”, disse Luana.

Terminado o horário do almoço, hora de voltar ao batente. E o que você mais deseja hoje? – eis a pergunta final. "Que todos os brasileiros sejam vacinados, e as pessoas fiquem em casa, havendo, claro, políticas públicas para manter o isolamento".